A Organização Social das Formigas
As formigas, assim como os cupins, são consideradas eussociais, Esta eussocialidade está ligada a três características: (1) sobreposição de gerações- diferentes gerações convivem lado a lado no mesmo ninho; (2) cuidado com a prole- cuidado cooperativo de vários indivíduos para alimentação e proteção da cria e (3) divisão de trabalho- alguns indivíduos são especialistas em reprodução enquanto outros tratam das demais atividades.
Em um mesmo formigueiro podem conviver diferentes tipos de formigas, principalmente rainha e operárias. Os machos aparecem uma vez por ano e têm basicamente a função reprodutiva. Dessa forma a população fixa de uma colônia é composta exclusivamente por fêmeas.
A rainha é uma formiga fértil que possui a função de postura de ovos e é alimentada por operárias. Em várias espécies a rainha pode viver muitos anos, enquanto que em outras, como por nas exemplo formigas domésticas, vivem de 5 a 12 meses. Alguns formigueiros têm apenas uma única rainha (denominado monogínico). Já outros possuem várias rainhas (poligínicas). Em geral, as rainhas das espécies poligínicas tem longevidade menor do que as demais, ainda que aquelas compensem produzindo novas rainhas com maior freqüência.
As operárias são fêmeas estéreis. Elas constroem e reparam os ninhos, alimentam e limpam a rainha, buscam água e alimentos além de cuidar da cria em todos aspectos: alimentação, transporte e limpeza. Em algumas espécies de formigas as operárias são idênticas entre si. Em outras, porém, diferem principalmente quanto ao tamanho. Dependendo da idade, a operária pode mudar de atividade. Quando mais jovens, as operárias são amas da cria, cuidando da prole que formará a nova geração. Posteriormente, elas tratam de cuidar das tarefas internas do ninho e, quando mais maduras, ocupam-se com as atividades externas, sobretudo busca de água e alimentos e exploração do ambiente.
O início de uma nova colônia é um evento muito importante além de muito curioso! Somente as rainhas e os machos possuem asas. Em determinada época do ano, as rainhas e os machos voam e, enquanto voam, acasalam-se. Este é o vôo nupcial. Os machos depositam seus espermatozoides em um compartimento interno da fêmea denominado espermateca. Após o vôo nupcial os macho têm pouco tempo de vida, enquanto que as fêmeas têm um longo período reservado a elas. Caem no chão e perdem as asas. O próximo passo nessa aventura é cavar e achar um local seguro para depositar seus ovos. Quando a rainha acha, funda um novo formigueiro.
No início, os ovos que a rainha põe servem para nutrir ela mesma: são os ovos de alimentação. Depois, a rainha passa a pôr ovos que vão formar indivíduos completos: são os ovos de desenvolvimento. Estes formarão as fêmeas, que são diploides (têm um conjunto de DNA completo). Já os óvulos que não foram fecundados formarão os machos, que são haploides (têm metade do conjunto de DNA). Mas se existem várias fêmeas iguais no início do desenvolvimento, o que determina qual delas será a próxima rainha? A resposta é simples e ao mesmo tempo muito engenhosa por parte da natureza: a quantidade de alimento disponível na fase larval, sendo o mediador fisiológico o hormônio juvenil, que determina essa diferença.
As Formigas como Pragas
Ecologicamente falando, nenhum inseto ou animal é considerado uma praga. O homem costuma assim os chamar, pois, direta ou indiretamente, alguns insetos causam danos econômicos ou para a saúde pública, além de serem potenciais incômodos se invadirem residências. Biologicamente, uma praga é uma população que está em desequilíbrio, conseguindo número de indivíduos superior ao normal e estabelecido pela harmonia das interações seres-ambiente e entre seres vivos. Estas interações determinam um equilíbrio populacional. O desequilíbrio ocorre quando a situação natural é alterada.
As espécies de formigas que convivem com o homem, invadindo suas residências ou permanecendo nas regiões externas são genericamente chamadas de formigas urbanas. Analisando essas formigas, notoriamente a grande maioria delas é considerada exótica, ou seja, vivem em habitats diferentes da sua origem e somam quase de 120 espécies. Mas nem todas essas espécies têm a capacidade de se instalar com sucesso, prosperar e aumentar a área colonizada. As espécies que conseguem essa façanha chamam-se invasoras. Elas podem mudar de local e competir com as espécies naturais, deslocando-as. Grande parte do problema que a América enfrenta com formigas é devido ao fato de espécies exóticas terem sido introduzidas em áreas onde não havia inimigo natural, provocando rápido crescimento dessas populações de formigas.
Algumas formigas têm uma facilidade muito grande de se associar às atividades humanas. Essas formigas têm no comércio, sobretudo marítimo, uma forma de disseminação e conseguem nidificar (formar ninhos) nos locais mais inesperados. Elas podem causar problemas quando ocorrem em fábricas de alimento, padarias, restaurantes, instituições de pesquisa, zoológicos e biotérios, escritórios e instituições relacionadas à disponibilização de energia, etc. Dentro das residências o problema se agrava quando elas são encontradas em aparelhos eletrodomésticos, computadores, geladeiras, entre outros..
Em matéria de formigas, o Brasil se destaca. Nas regiões temperadas, poucas são as espécies que invadem prédios e residências. Já no Brasil, esse número passa de vinte espécies. Isso faz com que o nosso país tenha grande diversidade de espécies em ambientes humanos, o que dificulta o manejo uma vez que a retirada de uma espécie pode ser imediatamente sucedida pela invasão de outra, ocupando o nicho da espécie anterior.
Diversidade de Espécies e Importância Ecológica
“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio.”
Provérbios 6:6
As formigas compõem um grupo de animais pertencentes ao filo Arthropoda, classe Insecta, ordem Hymenoptera e família Formicidae. Conhecidas no mundo inteiro, elas freqüentemente despertam a curiosidade não só dos cientistas, mas também de toda a comunidade. O modo como se organizam em sociedades e como adquiriram um estilo de vida para lá de especial intriga ainda hoje os pesquisadores e fazem das formigas um dos grupos animais mais estudados.
Como é a vida das formigas? Como elas conseguem ter uma organização interindividual tão complexa? Como a vida do homem e das formigas se cruzam? Para responder a essas e a outras perguntas leia este texto e descubra que a mirmecologia (ciência que estuda as formigas) é muito mais interessante do que você sempre pensou!
Diversidade e importância ecológica
Atualmente são conhecidas cerca de 12.000 espécies de formigas. Destas, 2.000 vivem no Brasil. As formigas conseguem habitar vários locais do globo: desde as mais cobertas e naturais florestas tropicais até os mais limpinhos e asseados armários da casa do(a) leitor(a). O que difere é o grau de diversidade (número de espécies na área). Na Amazônia, por exemplo, em uma única árvore foram encontradas 43 espécies distintas e em um hectare de solo há mais de oito milhões de formigas. Contudo, há somente algumas dezenas de formigas residenciais.
As formigas representam cerca de 10 a 25% da biomassa animal do planeta. Esse fato faz delas um verdadeiro “concentrador” de energia, além de serem fundamentais para a reciclagem de nutrientes. Contribuem para a aeração do solo, além de serem agentes polinizadores (transportam pólen de uma flor para outra, possibilitando a formação de sementes) e dispersores de sementes (transportam as sementes de um lugar para outro, possibilitando a germinação das plantas em diferentes regiões).
Por terem hábitos alimentares diversificados (carnívoras, herbívoras ou onívoras), as formigas desempenham papel importante na cadeia alimentar. Em geral a competição é algo muito comum entre as formigas e por isso muitas vezes o arqui-inimigo de uma formiga não é nada mais, nada menos, do que outra formiga.
A rainha, que é uma tanajura que foi fecundada em vôo, funda a colônia e controla o número de soldados, cortadeiras e jardineiras de cada estação. Além disso, a rainha parece comandar todas as atividades do formigueiro, liberando diferentes hormônios que ajudam a organizar as tarefas principais, tal como um maestro rege os demais músicos em uma orquestra. As formigas reprodutoras são as tanajuras (fêmeas) e os bitus (machos), que sempre têm asas e abandonam o formigueiro uma vez por ano para se reproduzir. A esse fenômeno chamamos de revoada.
E as Formigas do Meu Jardim? (Cortadeiras)
Quem nunca viu uma formiga pequena carregando um enorme pedaço de folha? Inclusive, a fama de trabalhadoras que lhes rendeu uma citação na bíblia vem da imagem do animal com um pedaço de uma planta no dorso. Essas formigas recebem o nome de cortadeiras. São muito comuns em regiões peridomiciliares, como jardins. Especificamente, o que elas fazem? Como elas vivem? O que elas contam a respeito do solo, do seu jardim, caro leitor?
As formigas cortadeiras são popularmente conhecidas como saúvas e quenquéns. Elas somam cerca de 40 espécies no Brasil. Por falar em Brasil, as formigas cortadeiras são especialidade do continente americano, pois não são encontradas em nenhum outro continente.
Ainda dentro do continente americano, as cortadeiras concentram-se nos trópicos. Nesta região, o Brasil é o país com o maior número de espécies de formigas cortadeiras. Quanto à classificação biológica, as saúvas pertencem ao gênero Atta, enquanto que as quenquéns pertencem aos gêneros Acromyrmex, Sericomyrmex, Trachymyrmex e Micoceporus, destacando-se o primeiro gênero citado.
Consideradas as piores pragas do ambiente rural, as formigas cortadeiras possuem um ataque voraz a algumas plantas e têm o potencial de exercerem atividades durante todo o ano. Estima-se que cerca, só no Estado de São Paulo, existam 100 milhões de sauveiros. Eles juntos cortam cerca de 180 milhões de toneladas de matéria vegetal e removem 200 milhões de metros cúbicos de terra.
Agora, o leitor deve estar se perguntando: e eu, que moro na cidade, com isso? Não sou agricultor! A questão é que essas formigasnão ocorrem somente no campo. Elas podem estar mais perto de você do que possa imaginar!
Ao contrário do que todo mundo pensa, as cortadeiras não se alimentam diretamente das plantas que cortam e carregam. Elas levam o material vegetal para o formigueiro e lá cultivam, com as folhas, um fungo que é essencial para a sua alimentação.
Quem é quem?
A organização social das formigas cortadeiras não difere muito das demais formigas. Em especial, nessas espécies as operárias podem ser divididas em três tipos de indivíduos quanto à sua função: soldados; cortadeiras ou carregadores e jardineiras. Os soldados são as formigas encarregas da proteção do ninho. Elas acompanham as outras operárias enquanto estas procuram alimento e defendem o formigueiro de predadores. As cortadeiras são as típicas “pau para qualquer obra”. Cortam e carregam folhas, limpam o ninho, abrem novos caminhos, escavam, cuidam dos ovos e da cria e até ajudam na defesa do formigueiro. Já as operárias jardineiras são os menores indivíduos da colônia, e tem como tarefa a manutenção da colônia de fungos.
A rainha, que é uma tanajura que foi fecundada em vôo, funda a colônia e controla o número de soldados, cortadeiras e jardineiras de cada estação. Além disso, a rainha parece comandar todas as atividades do formigueiro, liberando diferentes hormônios que ajudam a organizar as tarefas principais, tal como um maestro rege os demais músicos em uma orquestra. As formigas reprodutoras são as tanajuras (fêmeas) e os bitus (machos), que sempre têm asas e abandonam o formigueiro uma vez por ano para se reproduzir. A esse fenômeno chamamos de revoada.
Como diferenciar uma saúva de uma quenquém?
Isso não é uma tarefa muito simples, mas também é algo que o leitor pode aprender com facilidade. Existem três métodos para distinguir:
os soldados das saúvas têm a cabeça relativamente grande, sendo popularmente chamadas de cabeçudas. Não só isso, mas todo o corpo dos soldados e das rainhas das saúvas são maiores que as das quenquéns;
quanto ao formigueiro, os quenquenzeiros são menores e mais superficiais. Por conseqüência, em sauveiros encontra-se bem mais terra removida sobre o solo. Outra conseqüência dessas características é que os quenquenzeiros são significativamente mais vulneráveis do que os sauveiros, sendo mais fácil de promover o controle;
quanto a características morfológicas, todas as cortadeiras possuem espinhos no dorso do tórax. Da próxima vez que o leitor passar na frente do seu jardim, aproveite o tempo vago e observe as cortadeiras. Pegue emprestada a lupa do seu vizinho e observe uma cortadeira mais afundo. Caso a formiga tenha três pares de espinhos no dorso e, portanto, 6 espinhos no total, o que o leitor observa nada mais é do que uma saúva. Mas se o leitor observar 3 ou 4 pares normais e os outros atrofiados ou mesmo um número que varie até 8 pares, trata-se de uma quenquém.
Dentro do formigueiro
Assim como os demais formigueiros, os ninhos das cortadeiras são extremamente complexos e construídos de uma forma muito interessante.
O formigueiro de uma cortadeira é formado por três segmentos: formigueiro visível, panelas, olheiros e trilhas. A parte visível do formigueiro é a terra solta, escavada, formando montes. Já as panelas são pequenos compartimentos, como se fossem cavernas, que as cortadeiras fazem no interior do ninho com diferentes propósitos. De criar fungos a pôr ovos, de descarregar o lixo a criar a nova geração, as panelas são fundamentais para o bom funcionamento do formigueiro. Os olheiros, por sua vez, são pequenos orifícios através dos quais as formigas podem trazer material vegetal ou mesmo retirar grãos de terra ou formigas mortas do espaço interior. Vale dizer que os olheiros são o contato entre o interior e o exterior do formigueiro. Eles podem estar localizados a muitos metros de distância um do outro. As trilhas são os caminhos entre os olheiros e as partes mais interiores do ninho. Podem ter dezenas de metros.
Você já se perguntou quanto vive um formigueiro? Pois é. Essa pergunta agora é muito pertinente. Diferentes das outras formigas que conseguem repor a morte de uma rainha com o nascimento de outra, as cortadeiras não são capazes de fazer isso. Dessa forma, a vida de um formigueiro depende da vida da rainha. Se a rainha viver muitos anos, o formigueiro está a salvo e terá longevidade. A principal causa da morte é que as formigas não conseguem se organizar após a morte das rainhas. As operárias ficam confusas e param de criar os fungos. Acaba-se a comida. Todos morrem de fome, poucas semanas após a morte da rainha.
Mas, então, quanto tempo vive uma rainha? As rainhas das cortadeiras costumam viver bastante: 15, 20 ou mesmo 30 anos. Em comparação à vida de uma operária, a rainha vive muito tempo. Uma operária costuma viver 6 meses. Soma-se a esse tempo 30 dias na fase ovo, 30 como larva e 10 como pupa.
Logo após a morte do formigueiro ocorre grande infiltração de água. Vamos lembrar que o sistema arquitetado de um ninho permite isso. Além disso, no formigueiro há grande quantidade de matéria orgânica, o que propicia a o nascimento de plantas.
A saúva e a fertilidade do solo
Se o meu jardim tem saúvas é um sinal de que ele é pouco fértil? Se achei cortadeiras no meu pomar significa que as plantas estão em um local não tão ideal?
Atualmente, considera um mito tudo o que se diz a respeito da relação fertilidade e presença de cortadeiras. As saúvas preferem áreas altamente modificadas pelo ser humano e perturbadas pelo mesmo. Os tipos de solos preferidos são aqueles menos compactados, com melhor aeração e drenagem e com uma estrutura fraca que permita abrir com facilidade os olheiros.
Formigas Domésticas
Um pote de açúcar infestado de formigas. Uma trilha delas no azulejo da cozinha. Um conjunto de formigas saindo da fresta do rodapé ..... Uma reunião delas envolta dos restos de brigadeiro que seu filho deixou carinhosamente pela cozinha inteira. Pois é.... Não é tão difícil imaginar uma cena das formigas em sua casa. Mas o que elas têm que os outros animais ou mesmo outros insetos não possuem e que possibilita a elas viver em residências humanas?
No geral, o sucesso da associação das formigas a ambientes urbanos deve-se ao comportamento social elaborado e a pouca especialização de seu comportamento alimentar.
As formigas domésticas têm certa facilidade para associação com o homem. Elas, a partir dessa associação, conseguem água, alimento e local para construção de ninhos. Outro fator importante é a capacidade de transporte de formigas pelo homem, facilitando a disseminação à longa distância.
As formigas domésticas tendem a ter pouca agressividade intra-específica, isto é, dentro da espécie não há muitos confrontos nem agressividade. Isso possibilita que elas se estabeleçam colônias amplas em ninhos interligados (polidômicos). Esses ninhos são unicoloniais e tendem a ser muito grandes. Mesmo grande em área, os ninhos das formigas domésticas são pouco estruturados, pois são estabelecidos em pequenas frestas, sob azulejos e pisos, batentes de portas ou equipamentos elétricos e eletrônicos. Por outro lado, as espécies domésticas têm alta agressividade inter-específica, ou seja, competem e deslocam espécies nativas. Há casos, contudo, onde as formigas urbanas podem: conviver, uma espécie ser dominante e a outra sub-dominante ou haver forte competição.
As formigas domésticas migram com facilidade. Essa tendência a mudar frequentemente o ninho de local e ocupar novas áreas faz com que as formigas não defendam com veemência o ninho (é mais vantajoso formar outro) e estes sejam pouco elaborados, como mencionado acima. Outra característica importante é a o poliginia. Dentro de um ninho de formigas domésticas, frequentemente há várias rainhas funcionais. Nas espécies domésticas também há a eliminação do vôo nupcial e a rainha e o macho acasalam-se dentro do ninho. Isso reduz a susceptibilidade à predação que ocorria durante o período em que a rainha permanecia exposta no vôo nupcial.
Ainda quanto à reprodução, outra característica importante para as formigas domésticas é a sociotomia. A sociotomia é a característica que dá às formigas a possibilidade de formar várias colônias a partir de uma única inicial. Unidades compostas de rainhas, operárias e crias, denominadas de propágulos, migram de um local para outro, formando novas colônias. Em alguns casos não é necessária a presença de rainha para o início de uma nova colônia.
Formigas e suas Fases
As formigas são insetos holometábolos, ou seja, passam pelo processo de metamorfose completa. Sendo assim, os indivíduos têm três estágios de desenvolvimento imaturo até chegar à fase adulta: ovo, larva, pupa.
O ovo é a fase embrionária das formigas. Os embriões têm uma membrana de proteção especializada chamada cório, a qual é rompida na eclosão das larvas. Após a fase de ovo segue-se o estágio larval. Nesta fase ocorre o crescimento propriamente dito do animal. Este é determinado por acúmulo de reservas, principalmente de gorduras. As larvas não têm apêndices locomotores e por isso não se movimentam, assim quem as alimenta são as operárias em um processo conhecido como trofalaxia. Neste processo um indivíduo transfere para outro o alimento que se encontra dentro do seu próprio tubo digestivo por regurgitação.
Após este estágio de desenvolvimento, segue-se um dos eventos mais curiosos da natureza: a metamorfose. Esta pode ser visualizada como a perda de características de larvas para conseguir as de adulto. Para chegar à fase adulta (chamada de imago), as formigas passam antes pela fase de pupa. Neste estágio a formiga não se alimenta nem se movimenta. Forma-se também uma cutícula externa (para proteção) e os órgãos internos terminam sua diferenciação. Após esta fase, emergem o adulto.
Hábitos Alimentares das Formigas
A dieta das formigas varia muito, mas a grande maioria é onívora, ou seja, podem se alimentar tanto de vegetais quanto animais ou mesmo de restos de alimentos humanos. No caso das carnívoras, os principais alvos são animais mortos e secreções de insetos vivos. Já no caso das herbívoras, seiva, néctar ou fungos.
O primeiro passo para uma boa alimentação é a procura de alimentos, chamada na ecologia de forrageamento. Este é o papel das operárias. Elas conseguem o alimento e armazenam em um órgão especializado chamado papo. Cabe também às operárias a distribuição (boca a boca) do alimento ao restante dos membros da colônia, através do comportamento de trofalaxia. Por vezes, o processo pode ocorrer de forma inversa, passando das larvas para as operárias. A ciência explica esse fato através do conhecimento de que algumas larvas possuem enzimas especiais que conseguem digerir o alimento quando sólido, enquanto que os outros membros da colônia só digerem alimentos líquidos. É comum também que formigas de diferentes idades tenham diferentes necessidades alimentares: larvas precisam de dieta rica em proteínas e adultos, rica em carboidratos.
Quem assistiu ao filme “Vida de inseto” (da Pixar, 1998) deve se lembrar da rainha do formigueiro. No filme, ela tem como animal de estimação um pequenino inseto verde: o pulgão. Ainda que de uma forma lúdica, o desenho traz à tona uma complexa interação ecológica existente entre os dois animais. As formigas carregam, protegem de inimigos naturais e auxiliam na alimentação não só pulgões, mas também cochonilhas e cigarrinhas. Em troca, obtém desses animais uma secreção adocicada e rica em aminoácidos: o honeydew. Assim, para ambos há um favorecimento da relação no que toca ao custo/benefício da mesma.
As formigas residenciais se alimentam basicamente de restos de alimentos humanos. Bolos, açúcares, cereais, entre outros, são pratos cheios para a chegada das visitantes. Com isso o homem acaba por afetar significativamente a oferta alimentação dessas formigas, que, por sua vez, entram em um processo de desequilíbrio ecológico, aumentando significativamente sua população e, consequentemente, originando o que o ser humano chama de praga.
Como as Formigas Constroem seus Ninhos
Todas as espécies animais são dotadas da capacidade de se instalar em um determinado local e ali estabelecer habitação. Com as formigas ocorre o mesmo. É de se esperar, nesse caso, que uma interação entre indivíduos tão complexa requeira também formas de habitação mais elaboradas. Dito e feito! Os ninhos das formigas são cuidadosamente construídos, dando a elas uma funcionalidade sem igual e que possibilita um modo de vida muito interessante.
Um ninho, por definição, é um sistema de passagens e cavidades que se comunicam entre si e com o exterior. O ninho das formigas (popularmente chamado de formigueiros) é formado por diversas galerias e câmaras, sendo quase um labirinto. Eles podem ser construídos no chão, (superficial ou subterraneamente), em madeiras, no interior de troncos ou mesmo em outras partes de plantas. As formigas também podem se instalar no interior das residências, sob azulejos e pisos, batentes, móveis ou aparelhos eletrodomésticos.
A organização dos ninhos é conhecida sob dois modelos: monodômico ou polidômico. Monodômico é aquele no qual o grupo se instala completamente em um único ninho. Já o polidômico, aquele no qual o grupo está instalado em vários ninhos que se comunicam entre si. Algumas vezes a nobreza é separada das demais castas: a rainha em um determinado lugar do ninho enquanto as operárias e as crias em outro distinto.
Em um formigueiro todo o espaço é bem aproveitado. As câmaras, por exemplo, podem ser locais para armazenamento de alimentos, depósito de lixo ou ainda criadouro de larvas. Tudo isso faz com que um ninho possa ser um atrativo a outras espécies de formigas. Como dito, a competição é freqüente entre as formigas. Assim, são comuns o combate e o comportamento agressivo entre indivíduos de diferentes ninhos. E por falar em alimento...
Como é o corpo de uma formiga?
Os insetos, em geral, apresentam o corpo dividido em três regiões distintas: cabeça, tórax e abdômen. Porém, as formigas apresentam características próprias de divisão. Seus corpos podem ser divididos em três regiões: cabeça, mesossoma (que representa o tórax fundido ao primeiro segmento abdominal) e o metassoma ou gáster (abdômen sem o primeiro e segundo segmentos). A ligação entre o meso e metassoma é feita por uma estrutura chamada pedicelo/ pecíolo, popularmente conhecida como “cintura”. Externamente, como os demais insetos, as formigas apresentam um exoesqueleto que as protege da dessecação e de impactos, no qual está fixada sua musculatura.
A cabeça é o local onde estão localizados o aparelho bucal e os órgãos sensoriais (antenas, olhos, ocelos), sendo estes responsáveis pela captação de estímulos ambientais.
Estes himenópteros apresentam um par de antenas cuja forma é bastante característica, pois fazem uma dobra muito similar a um cotovelo (forma geniculada). Outros órgãos sensoriais de destaque são os olhos. Os olhos das formigas são compostos, ou seja, são formados a partir da união de diversos outros elementos unitários, chamados de omatídeos. Geralmente os olhos dos indivíduos que se reproduzem (rainhas e machos) são mais desenvolvidos do que os daqueles que são estéreis.
Em relação ao aparelho bucal, os formicídeos apresentam mandíbulas aparentemente projetas para a mastigação, o que auxilia no entendimento do seu hábito alimentar.
No mesossoma são encontrados os apêndices locomotores (pernas e asas, quando presentes).
Na porção apical do gáster estão localizadas as aberturas anais e do aparelho reprodutivo, quando machos ou rainhas. Em muitas formigas há um ferrão na ponta do gáster. Na extremidade desta região também há uma glândula responsável pela comunicação entre as formigas. As formigas caminham e esta glândula libera seu feromônio, que ajuda a marcar o território por onde o indivíduo passou (feromônio de marcação de território).
Danos Causados ao Homem
“Muita saúva, pouca saúde, os males do Brasil são”
Até quando as formigas podem causar problemas de saúde pública?
Quem já teve a oportunidade de ler o livro “Macuanaíma”, de Mário de Andrade, com certeza se deparou com essa frase: “muita saúva, pouca saúde, os males do Brasil são”. A frase citada no livro visa criticar a saúde no Brasil, que por sinal deveria ser prioridade. Não poderíamos deixar escapar, então, de usar a mesma frase para evidenciar que existe uma relação estreita entre a infestação de formigas e a saúde pública.
As formigas são hoje em dia as principais causas de reclamação pela população no que diz respeito a pragas urbanas. Evidente que a presença de formigas em residências pode causar sérios incômodos, o que certamente perturbaria o bem estar da família. Contudo, além da perturbação do bem estar, as formigas são potenciais agentes causadores de danos na saúde pública. Nesse aspecto, destacam-se as alergias e acidentes com picadas e o papel das formigas quando estas se encontram em ambiente hospitalar.
Alergia....Mas à formiga?
Alergia é uma designação a uma doença ocasionada devido a uma resposta imune exagerada a um determinado componente que aparentemente é inócuo. A resposta alérgica ocorre quando um indivíduo suscetível (determinado por características genéticas) é exposto diversas vezes ao composto ao qual ele tem alergia. O termo alergia a insetos é generalizadamente usado para designar alergia não só ao grupo dos inseto,s mas também a todos os artrópodes como ácaros e aranhas (aracnídeos). Quando específico para formigas, o principal causador da alergia (constituinte alergênicos) é encontrado nos venenos injetados. Os principais componentes são enzimas e outras proteínas. Alergia a picada de himenópteros em geral causam choque anafilático nos indivíduos sensíveis, podendo levar à morte em 30 minutos.
Formigas visitando hospitais
Quando se pergunta “qual é o seu local favorito de passeio”, muitas pessoas com certeza vão responder o parque de diversões, a praia, o shopping ou mesmo um zoológico. Dificilmente alguém vai responder um hospital. Contudo, essa não é a mesma lógica das formigas. Frequentemente são encontradas formigas em hospitais. As possíveis causas são armazenamento impróprio de medicamentos ou outros produtos químicos, intenso tráfego de pessoas e presença de comida e água acessíveis no local.
As formigas podem colonizar equipamentos hospitalares, invadir áreas como UTIs e perturbar a vida tanto dos trabalhadores do hospital (médicos, enfermeiros e outros funcionários) quanto dos pacientes. Em estudos recentes em hospitais do Estado de São Paulo, constatou-se que todos os hospitais apresentavam infestação por formigas. As alas de maior infestação foram os berçários e as UTIs, sendo Tapinoma melanocephalum e Paratrechina longicornis as espécies de mais freqüentes. Em geral, o ambiente hospitalar é muito restritivo e em cada hospital ocorre a predominância de uma única espécie.
O problema das formigas em hospitais torna-se ainda mais grave quando se considera que as formigas podem transmitir mecanicamente bactérias e outros agentes patogênicos. Em estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense, pode-se encontrar que grande parte das formigas em hospitais carregam bactérias que podem causar infecções hospitalares, além de doenças como infecções respiratórias, diarreias entre outras. Isso se torna ainda mais preocupante quando se pensa que os pesquisadores descobriram que essas bactérias carregadas por formigas tendem a ser resistentes às medicações de uso padrão.
O fato de formigas em hospitais poderem causar sérios problemas quanto a possíveis infecções não significa necessariamente que a infestação de formigas em ambientes domésticos seja livre de danos. Ao contrário: as formigas frequentemente visitam lixos e locais não limpos e, por isso, o contato com esses invasores não é dos mais agradáveis. Além do mais, estudos demonstram que formigas podem ser vetores mecânicos de cistos de vermes como lombrigas e protozoários como Entamoeba, causador da amebíase. Por isso, procure sempre manter a sua residência livre das formigas.
Curiosidades
Formigas de importância forense
Assim que ocorre um assassinato ou acidente com mortes, os peritos criminais são chamados ao local. O trabalho desses profissionais ajuda a dar o desfecho de muitos mistérios policiais. Mas os peritos criminais só possuem evidências de um passado remoto. Eles não conseguem, na maioria das vezes, assistir a um filminho do que ocorrera minutos antes do acontecimento; nem podem pedir fieis descrições a respeito da cena fatídica às vítimas. Só contam com as evidências, com as pistas. Que pistas são essas? Como uma pista pode guiar o olhar de um perito, fazendo com que ele enxergue em um cadáver a resolução de um caso policial?
As pistas contidas em um cadáver são inúmeras e de diversos tipos. Dentre essas, vale destacar aquelas pertencentes à entomologia forense. Esta área da ciência estuda como a sucessão de insetos em um cadáver pode traduzir acontecimentos relativos ao próprio crime, como por exemplo, o intervalo post mortem (quando a morte ocorreu?) e modo e local da morte. Um dos insetos estudados nesses casos são as formigas.
As formigas presentes em cadáveres podem se alimentar dos restos mortais ou mesmo das larvas de outros insetos que se alimentam diretamente do cadáver. Em estudo recente, pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) descobriram que a formiga Cephalotes clypeatus é um exemplo de formigas que poderiam ajudar a solucionar os casos de crimes envolvendo cadáveres. No estudo, os cientistas encontraram que essa espécie de formiga está presente em carcaças animais desde os primeiros momentos de decomposição e poderia interferir no restante do processo. Outros pesquisadores puderam determinar com sucesso o intervalo post mortem a partir de colônias da formiga Anoplolepsis longipes. Assim, essas e outras pesquisas mostram que o estudo das formigas, a partir de um ponto de vista forense, é de fundamental importância para desvendar os crimes mais tenebrosos.
Comer formiga faz bem para visão?
Fatalmente o leitor já deve ter se deparado com essa frase. A explicação é ironicamente mais cômica do que a hipótese: “alguém já viu um tamanduá de óculos?”. Com certeza deve ser bem surpreendente (assustador, não?) se deparar com um tamanduá usando óculos, ou mesmo num oftalmologista reclamando da vista cansada. Mas tudo o que se diz a respeito de comer formigas e ter boa visão é mito. Não existe comprovação científica que aponte a vantagem de se comer formigas.
Provavelmente, a lenda surgiu na tentativa de fazer com que as pessoas não rejeitassem alimentos nos quais formigas tivessem caminhado. Doces ou gorduras visitados por formigas eram facilmente rejeitados pela população e nada como um mito para endireitar a consciência popular. De fato, muitos povos consideram formigas como verdadeiras iguarias. Venezuelanos, colombianos, mexicanos, africanos e australianos vêem nas formigas um alimento para lá de apetitoso. Não se precisa ir tão longe: nossos ancestrais indígenas brasileiros como os tupis tinham hábito de comer formigas, principalmente tanajuras.
Outra força mítica que impulsiona a crença de que comer formigas faz bem é o fato de os insetos serem o grupo animal mais abundante na Terra. Isso traz a vantagem de nunca faltar alimento, uma vez que uma formiguinha fresquinha sempre é fácil de encontrar. Aqueles que comem formigas costumam comer a região onde ficam os ovos na rainha. Ainda sim o valor nutritivo é muito baixo para afirmar qualquer coisa.
Saiba Mais
MARICONI, F.A.M.; FONTES, L.R.; ARAÚJO, R.L.; ZAMITH, A.P.L.; CARVALHO NETO, C.; BUENO, O.C.; CAMPO-FARINHA, A.E.; MATHIESSEN, F.A; TADDEI, V.A.; OLIVEIRA FILHO, A.M.; FERREIRA, W.L.B. Insetos e outros invasores de residências. Piracicaba: FEALQ, 1999. p. 181-209.
Acidentes por formigas: um problema dermatológico. Disponível em:
<http://www.anaisdedermatologia.org.br/public/artigo.aspx?id=1210>.
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